quarta-feira, 17 de junho de 2009

Minhas três almas penadas

Conheci as duas almas penadas por acaso. Como quem passa por uma vitrine só por olhar , sem muito interesse no que está do outro lado.
Quando abri a geladeira - aquela que serve de freezer também - inevitavelmente percebí seus movimentos , leves e harmoniosos, duas almas que se amavam, uma coçando o piolho na cabeça da outra. Que se encolhiam de prazer. Tomando banho juntas, precisamente às cinco da tarde, queriam entrar na noite refrescadas, limpas, como devem ser as alminhas.
Eu já conhecera e amara outra almazinha que partira pra bem-longe-nunca-mais. Era uma menina linda. Radiante como a luz do sol mais belo que você já viu. Seus olhos eram sua transparência, dois espelhos d’água de um imenso lago de amor que leva no peito.
Hoje essa almazinha me alegra as manhãs de verão ensolaradas, que já nascem mornas, e entristece as tardes de outono-inverno, quando a tinta do sol avermelha o horizonte na janela lá de casa। Nessa hora as alminhas penadas vão se chegando, se encostando, se fundindo até uma só alma se tornarem. Bebo qualquer coisa, fecho a geladeira, e o pensamento vai longe, em busca daquela outra alma tão linda, tão filha da gente.
Hoje tive uma visão, três almas que conheci passeando pelos céus da vizinhança. Uma menina -moça com seus quase 15, sorrindo um sorriso matreiro e feliz, e pousadas na sua mão de anjo aquelas duas criaturinhas penadas. A gaiola por cima da geladeira lá de casa está vazia. As duas almas penadas bateram asas e se foram pra-nunca-mais. Quando os tirei de lá seus corpinhos penados estavam mornos ainda, há pouco haviam partido.
Em tardes bem silenciosas, às vezes, nem sempre, consigo ouvir a algazarra que fazem as três. São trinados misturados a Cazuza e outros mais que já nem sei. Fico contente por dentro. Às vezes choro.

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