domingo, 5 de julho de 2009

Bar Flórida

Na parede amarelada , encardida por costas suadas, uma bandeira do Suriname vigia a todos, duas faixas verdes guardando uma estrela amarela ao centro. Os olhos do Marinheiro descem lentamente. Duas mulheres jovens, uma beleza envelhecida, bebem com gestos de preguiça. Estão à espera de programa. Na mesa ao lado, Boca , um famoso cafetão aqui de Belém, tenta entreter dois gringos, com certeza recem desembarcados, num inglês quebrado e malandro. De tempo em tempo volta a cabeça na direção das duas.
Peço mais uma porção de casquinhas de siri , unhas de carangueijo, e chope Cerpa nas canecas amassadas de alumínio, no ar a pimenta de cheiro com tucupi avança sobre todos. Bar Flórida, antigo Uirapuru, travessa da praça da República, só de lembrar já me dá sede. Marinheiro, meu irmão de muitas batalhas, não tira o olhar de uma baixinha lá no fundo do bar, ela está sentada com um tipo mal encarado, barbudo, óculos escuros e chapéu Panamá. Agora vem atravessando a Getúlio Vargas um garimpeiro de Serra Pelada, O Elefante, veterando de 1980, quando começou toda aquela loucura. Momento mágico. Todos os elementos vão se juntando numa teia invisível , é a circunstancialidade de que tanto falava Pocho, quando tentava teorizar as "coincidências " à sua volta, meio bêbado no Kennys Castways . Elefante vem em passos de paquiderme direto pra nossa mesa. Bebemos voltados para o prédio em frente, a Telepará, um ambiente com ar condicionado, limpo, que exerce sobre nós grande atração, quase um fascínio, máquina do tempo para esses viajantes tão distantes de casa. Nós e os marinheiros mercantes. O copo e o telefone, dois veículos de comunicação rápida. Basta a solidão e a sede.
Doutor, como vai essa força, fala a voz de trovão. E aí Marinheiro?, aperta a mão nos chacoalhando. Tem a camisa empapada de suor. Chapéu de abas viradas marcas violetas do melechete, uma boroca de couro presa numa das enormes mãos.

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