sábado, 25 de agosto de 2018

O Tinnitus

No início até achei ser um ruído dentro da cabeça, bem fino e contínuo, num tom fácil de descobrir talvez para um músico, pra mim mais parecendo uma cigarra tentando o suicídio na ânsia de explodir pelo canto. Estava aumentando de intensidade ,como se fosse possível, foi invadindo os cômodos, banheiros e quartos e acabou por tomar toda a casa. Estávamos todos acordados como zumbis sob o manto deste incrível zumbido coletivo.
Os habitantes da pensão aos poucos foram se encaminhando ,trôpegos e sonolentos em direção à cozinha ampla e iluminada pela claraboia onde se sentaram em um pequeno  semi círculo. DA e sua companheira Dona Acyoli ( a partir de agora será DÁ ) BE, MR (Marduk Ramahn ) , P (Pocho), até o cachorro Peter Tosh, todos sonolentos e irritados. Os idosos irritam-se mais facilmente.
Uma cadeira vazia indicava ser eu o esperado para se iniciar os trabalhos. BE já com o livro preto nas mãos foi falando alto e escrevendo na ata :
_Kraspalva, 45 de janeiro de 25785
Eu entrei já gritando : ¨vcs estão todos loucos ? o que está acontecendo aqui, e vc DA um experiente neurologista, professor e pesquisador reconhecido no mundo inteiro, como deixa isso acontecer, e vc MR que me pareceu pelo que soube das suas experiência viajando pelo interior das neurogaláxias amazônicas, viveu o Kaos da NY antiga, e fica aí com essa cara de condômino em assembléia ? vamos me respondam. ¨
O silêncio absoluto invadiu o grupo, que só foi quebrado pelo zumbido infernal motivo daquela reunião, fazendo com que todos voltassem os olhos esbugalhados procurando o intangível.

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