Babylon a nau capitânea.

Babylon é o nome desta nave galeão .
Escrevo aqui de cima da gaiola dos mastros centrais , e posso ver a nuvem de poeira cósmica na popa marcando nossa passagem rumo ao infinito, direto ao centro do oito. Quem comanda tudo isso, a nau, a viagem, o meio e os navegantes com certeza tudo pode, tudo lhe pertence, e no entanto o que mais lhe extasia, posso vislumbrar em seus olhos incandescentes na torre de comando, é a travessia, a pura viagem em si mesma. QUANDO DEI POR MIM já ia embarcado há algum tempo... Tento sempre num esforço vão, lembrar coisas ou fatos de antes do balanço desse mar etéreo. Antes do enjôo . Nada. Não existe nada para trás, apenas sonhos desconexos atraentes no início , mas por serem etéreos se desvanecem rapidamente um pouco antes dos olhos descansarem dos movimentos REM. Sou um dos bilhões de vigias de plantão. No que importa a mim, nem mesmo sei o que procurar , finjo viver uma vida normal, mas continuo vigilante, na tarefa assumida sei lá por quem, mas com certeza a mim conferida, assim como aos desconhecidos companheiros, que nos sabemos existir sem mesmo nunca termos nos visto.
Gosto de ficar aqui, solitário , os asteróides raspando minha cabeleira ao ventempo num jogo entre o esvoaçar e o envelhecer. Aqui, acocorado, sonho meus pesadelos preferidos, e quando volto o binóculo na direção do rastro da nau, posso rever o passado em meio a imagens se desfazendo como gigantesco puzzle lançado pelas escotilhas acesas , de um amarelo avermelhado, como só as tardes de inverno na casa da colina.
De repente sou a pedra de ácido descansando no dorso da lingua,a dúvida surgida, engulo ou não, eis a questão. A viagem recomeça, vamos à estréia de um filme "La nave vá ", a estrelita começa a ferver o heater diria Anton, nos braços da francesa bem vestida.